Mãe Natureza como cuidar e zelar no candomblé.


Como na natureza assim como na vida tudo é um ciclo, uma cadeia onde sempre há reações. Diferenças drásticas de temperatura são reações, chuvas torrenciais inesperadas são reações, queimadas desordenadas e quase incontroláveis em vários ecossistemas também são reações, e todas estas reações afetam de maneira direta ou indireta os ciclos que fazem a Terra funcionar e conseqüentemente também a nós seres humanos, os seres causadores da maior parte de todo este silencioso caos. Nós fomos criados com uma cultura ocidental, porém fazemos parte de uma religião que com sua raiz conceitos totalmente contrários aos desta cultura.

Somos filhos descendentes da natureza, fazemos parte dela, assim como ela faz parte de nós. Do que seríamos nós sem ela, do que seria nossa religião sem ela, seria impossível dar continuidade às nossas tradições sem a natureza. Nossos antepassados da África e também aqui no Brasil nos ensinaram que a natureza vem em primeiro lugar, agradamos a mãe natureza quando agradamos nossos Nkisi, saudamos a mãe natureza quando saudamos aos Nkisi, tocamos e pedimos sua licença antes de cumprimentar um Nkisi ou uma pessoa mais velho dentro da religião.

Nós temos as divindades que fazem parte dos elementos da natureza, estão representadas nestes elementos. Nzambi Mpungu que deu aos Nkisi seu respectivo elemento para que cada um o representasse a força ativa da natureza, fossem responsáveis e com a ajuda dos humanos mantem o equilíbrio entre a natureza e os seres habitantes da Terra. Nós não estamos acima da natureza e nem abaixo dela, fazemos parte viemos dela e seja de qualquer maneira voltaremos para ela.

Provavelmente se esse pensamento fosse mais coletivo, a natureza não estaria revidando de forma tão agressiva ao tratamento que a temos dado. Por isso pertencemos a uma religião que tem por base a esta mãe natureza e dependemos dela para continuarmos nossa fé, temos sim o dever de tentar impactá-la o menos possível, tanto como cidadãos nas ruas evitando lançar o lixo em outro lugar que não seja uma lixeira, por exemplo, como a nível religioso, a disposição dos ebós quando levados para fora do Terreiro ou quanto às oferendas direcionadas a Mikaia no mar ou a Dandalunda nos rios, aqueles vidros de perfumes, ou outros objetos de plástico ou de vidro não somem simplesmente dentro da água, eles permanecem ali ou são levados de correnteza em correnteza e demoram dezenas ou centenas de anos até que sejam decompostos.

Não quero aqui propor uma mobilização para sermos politicamente corretos não é isso de maneira alguma, apenas penso que se os diversos setores da sociedade se mobilizarem para contribuir com o meio ambiente, estas mobilizações ainda que pequenos em grupos repercutiram com ótimos resultados se forem observados em uma visão geral. Como religioso tenho esperança quanto ao futuro da nossa religião a partir dos meus netos e tataranetos, me vejo no dever de contribuir de alguma maneira para um ambiente mais limpo, menos poluído e uma natureza viva e sempre presente em nossos candomblés e nas outras gerações.